Há tempos quero fazer este texto, mas só depois de ver um vídeo de Bluesao na Internet, vi que era uma boa briga para comprar. Lembro que em meu curso de faculdade, um colega que trabalhava selecionando pessoas para empresas, disse que se eu fosse em uma dinâmica de grupo, o animal que deveria escolher era o Golfinho, porque todos os outros tem seus defeitos, então, quando pedissem que eu falasse qual gosto, a resposta seria obrigatoriamente Golfinho para conseguir a vaga. Hoje sim, gosto dos golfinhos, mas por outros motivos, porém, na época o bicho que eu tinha em casa e, consequentemente, gostava era o gato, e não podia falar porque “animais que gostamos são extensões de nossa personalidade”, ou seja, para conseguir um emprego você deve não ter personalidade ou se curvar à personalidade que querem.
Vivemos em tempos de empregos escassos, com pessoas de instrução em trabalhos menores e pessoas sem instrução em grandes cargos ou até melhor do que quem mereceria.
O problema é que estas dinâmicas não servem para definir nada. É um embolado de pseudo-análises psicológicas que no fundo, mesmo que válidas para descobrir o interior de alguém, não diz nada sobre a pessoa quanto funcionário. Imagine um homem, vivido, que por ironia da vida está passando por uma dinâmica; passei por muitas em minha vida; vi muitos homens mais vividos que eu, em meu último emprego, concorrendo a vaga de arrecadador de pedágio, participei junto com um homem de mais de 40 anos, pai de família e tudo mais, e tivemos simplesmente que dançar, brincar, falar sobre intimidades, ou sobre quais bichos gostamos e o porque queremos o emprego.
Primeiro, a resposta implícita é: Quero um emprego porque estou desempregado, ponto, acabou.
Mas imagino aquele homem dançando, não que dançar seja humilhação, mas ter que dançar para conseguir um emprego é humilhação. Aí todo mundo se reúne e aquele que não brincar de “Escravos de Jó” melhor que o outro não é contratado; o homem que não gostar mais de azul do que vermelho está fora, chegando ao ponto de novas dinâmicas baseadas em Reality Shows onde um precisa eliminar o outro, tudo jogos e mais jogos, com intuito, ao meu ver, de tirar a responsabilidade do contratante, porque, por incapacidade de julgar ele mesmo quem merece ou não o cargo, cria artifícios para que os seres humanos se auto-eliminem.
Sair de casa, como já aconteceu, para ter que encontrar estranhos, que nem sequer tenho liberdade, para cantar Ilariê da Xuxa, pular e dançar, depois de ter chegado lá em ônibus apertado, e metrô super lotado, para me deparar com uma música que não diz nada sobre minha personalidade, a não ser que sou ridículo demais para me sujeitar a tudo que os contratantes querem, é sim humilhação, humilhação moral, que ao voltar para casa, com aquele emprego não conseguido por não descobrir com quem estava o anel no “Passa o Anel” da dinâmica, piora ainda mais a situação, percebo que não sou ninguém, que se eu soubesse que não seria admitido não teria me sujeitado a isso… E caso seja contratado, foi através da humilhação e não da capacidade… E um detalhe, estas dinâmicas nem ao menos servem para bons cargos; se fossem, até valiam a humilhação, mas são para serviços menores que qualquer um, mesmo sem experiência podem fazer. Colocassem então os nomes dos candidatos numa roleta e sorteassem, seria mais digno e justo.
Cantar musiquinha, inventar poema com o nome da empresa, tudo para mostrar o quanto ela é egocêntrica, e depois, os incapazes de serem contratados somos nós. Imitar animal, ver pessoas latindo para estranhos, andar de quatro, miar, fingir que voa, recitar frases feitas para lavagem cerebral em estilo Augusto Cury, rebolar, assoviar, tendo que debater sobre aborto e outras questões polêmicas apenas para exercer nossa superioridade aos demais e mostrar que sabemos argumentar, tudo é jogo de prepotência ou humilhação barata… Antes fizessem uma roda literária, passássemos a dinâmica debatendo questões mais importantes do que simplesmente tendo mais um pouco da dignidade que sumiu com desemprego, mais diminuída.
Mas é assim: Começa pela humilhação, e quem conseguir se humilhar da maneira certa, ganha o prêmio de ser humilhado e muito quando estiver empregado. Realmente uma imagem deprimente da vida.
Por: Fabricio Martines Alves
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