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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

“SEM DEUS, O QUE LHE RESTA, ATEU?”

“Sem Deus, o que lhe resta, ateu?” Respondi simplesmente, que me restaria tudo. O sujeito me olhou de lado, torto, poderia dizer que havia um certo tom de deboche naquele olhar, o entendia, aliás perfeitamente – para aquele que em Deus crê, tal Ser é tudo e sendo assim, para aquele que NELE não crê, o que restaria? Poderia se perguntar a si mesmo, e a resposta tinha na ponta da língua ‘Nada resta para aquele que NELE não crê’ – Sabia que era isso o que havia passado por aquela cabeça e fora transparecido por aquele olhar, pois era isso que pensava a respeito tempos atrás e ainda é isso – visto que é o que mais ouço – quando em algumas discussões o tema Deus/Religião entra em pauta.

Penso que devo ser cauteloso comigo mesmo ao dizer que me restaria Tudo, pois não me resta esse Tudo, não ainda. Não porque o que me resta é uma parte imensa que só seria preenchida por Deus – como alguns sempre tentam me “alertar”, com o peito cheio, olhar que diziam muito por si só – mas sim porque ainda há muitas perguntas a serem respondidas e creio que muitas outras ainda surgirão, e assim iremos caminhando. Por essa razão, digo que devo ser cauteloso comigo mesmo ao dizer que me restaria Tudo, pois esse Tudo ainda não é conhecido, então devo reduzir esse Tudo ao que é claro e sabido, sendo assim tudo o que me resta é tudo aquilo que tenho por concreto, melhor respondido e melhor evidenciado.

Mas tudo isso deve ser capricho da minha parte, pois posso imaginar a extensão da questão. Poderia dizer que de concreto não saberia Tudo, mas do contrário, mesmo que eu ainda não soubesse Tudo, a forma como encaro essas questões me traria uma visão tão mais extensa quanto certamente, daquele rapaz. Não que eu esteja aqui sendo falacioso, mas acredito que com bons olhos, poderão me compreender melhor e talvez, até confirmarem o meu pensamento.

Quando comento a respeito de uma visão mais extensa, devo dizer que, primeiramente, a dúvida é a minha melhor ferramente ou seja, digo tranquilamente, que é a ferramenta que me faz crer nessa minha visão, “Quem eu sou?, “De onde eu vim?”, “Para onde eu vou?”, “Há um deus?”, “Não há um deus?”, “Como tudo surgiu?”, são questões distintas e complexas que entrariam tranquilamente em campos diferentes do nosso conhecimento e que cada um poderia dar uma resposta diferente. Mas quem estaria certo? Como sei com quem estaria a razão? O que é a razão? Podemos confiar no fundamento da razão? São questões que não tem fim. Às vezes quero acreditar que as tenha, mas em muitas outras, não vejo com tanto desânimo assim a dúvida, aliás, a vejo com muito entusiasmo e não consigo me imaginar sem ela.

Já ouvi dizerem que a dúvida é minha pior inimiga – indaguei-me no momento, “qual seria então a minha melhor amiga, a certeza?” – Não descreio que seja essa a intenção daquele meu amigo, mas não sei bem o quanto bom isso seria, se é certo que há um Deus e que ele nos deixou um livro de receitas de como levar a vida e que sendo assim, Ele seria a Verdade, então estaria sendo justificado o que no livro, está sendo receitado. Mas nisso tenho lá minhas dúvidas e em virtude disso, não vejo com bons olhos me distanciar das dúvidas. Um ser que nos corrompe já antes do nascer com um “pecado” que fora cometido por dois jovens, dois jovens que foram tentados por uma COBRA FALANTE, eu hein! Um Ser que ao depender de nossa cultura, da forma como crescemos e por consequência disso, nunca iremos ouvir sobre sua história, seu nome, nos castigará pela eternidade somente por não ter ouvido falar dele? Tenho certos lampejos de pensamentos que me faz ver esse Ser como um solitário, alguém – isso se posso chamar de Alguém esse ser, pois sempre que chamo de Alguém, me advertem dizendo que não é um alguém e sempre que deixo de usar o Alguém, me advertem dizendo que é Alguém, Pessoal. E não posso dizer que estão confusos, pois isso seria “heresia” da minha parte – voltando, vejo esse Ser como um alguém que quer toda a atenção do mundo para Ele. Me dá pena, dó, um Coitado! – sim, com letra maiúscula, pois sempre que se refere a elem, a de se usar letra maiúscula. Como pode, um Ser perfeito, como seus fiéis assim o intitulam, ser tão mesquinho e baixo assim? Eu hein!

Mas vamos ao que mais interessa, ao que me resta, bem dizendo. De primeiro devo dizer a respeito do meu ateísmo – e não usem de generalização em seus julgamentos, quando uma pessoa comenta sobre seu ateísmo, deve-se saber que tal comentário se restringe ao ateísmo daquele que comenta e não no ateísmo em geral, cada pessoa encara-o da forma que achar mais propícia para si; o que se pode generalizar, e isso a própria palavra nos permite, é que todos os ateus tem o mesmo pensamento a respeito de Deus/es e sobre o sobrenatural, isso e somente isso, se pode dizer de todos aqueles que se dizem ateus.

O meu ateísmo, assim como vejo, não é daqueles que irá lhe julgar pela “máscara” que você usa. Você de fato é livre para escolher o que deseja ser. Você antes mesmo de ser o que é, o que desejou ser, sempre será alguém que desfruta desta maravilha, que para mim, é a vida. A vejo como única, mesmo sabendo que para você não é, isso não irá me fazer tentar, de alguma forma, impedir você de vivê-la como pretende vivê-la, pensar do jeito como pretende pensar. Não é do meu desejo, ver um mundo com a mesma visão que eu tenho ou pelo menos, que se aproxime da visão que eu tenho. Mas o meu desejo é vê-lo de uma maneira que todos se respeitam, independente do credo, da cor, de onde veio e esses pormenores. A prosperidade, uma vida que seja digna de ser vivida, não somente para aqueles que têm poder – não só financeiramente, mas de qualquer poder que seja suficiente para haver essa divisão – é um desejo que desejo ser de muitos. Viver, assim como é, deve ser um privilégio para todos, mesmo que isso possa parecer utópico na realidade atual, não devemos desistir de lutar por isso.

Pouco me importa, se o deus cristão, algum deus do hinduísmo, algum outro deus de outra religião, realmente exista. Sei que eu existo e assim pretendo viver. Creio também em minha finitude, o que me faz querer mais ainda viver. O que posso ser, tenho que ser nessa vida, que considero ser a única que tenho para ser. Por mais que me salta aos olhos o vazio que nela é presente, costumo a vê-la assim como um quadro-negro antes do início da aula, vazio, mas no final da aula, podemos ver o quanto aquilo foi proveitoso. Me basta somente um pedaço de giz, um pedaço de giz que me será útil para quando chegar ao último dia de vida e na lápide, poder escrever que “Aqui, jaz alguém que viveu” e para aqueles que perguntarem por aquele alguém, poderão saber que esse alguém foi eu e que fora alguém que viveu.

Quando mais cedo comentei sobre a liberdade, devemos saber que, logicamente ela é limitada por algumas questões. Liberdade temos quando a ação seja possível de ser realizada e o que é possível de ser realizado, primeiramente, será o que não ultrapasse as leis da natureza, mas não somente isso limita nossa liberdade. Vivemos em sociedade e por consequência disso, adotamos certas medidas, que independe de religiões, que é de suma utilidade para que possamos assim viver pacificamente e ter uma vida próspera, independente desses pormenores. Pois bem, nessa questão é que devemos assegurar esse direito para todos, Liberdade para todos.

Vejo que um dos maiores crimes que se pode cometer a outrem, é essa imposição que é feita – posso dizer que é por meio do medo – a pessoas que mau conseguem pensar a respeito do assunto. Essa doutrinação, não somente das crianças, mas a todos que tiveram um grau de instrução baixo sendo assim, alvo fácil dos (criminosos) doutrinadores, é que deve ser combatido e erradicado. Não porque o que é doutrinado a elas seja uma opinião contrária a minha, mas sim em razão daquele que está sendo exposto, seja leigo ao assunto. Irei respeitar quando amadurecido estiver e adotar certo pensamento para si, o que asseguro e luto por isso, é que tome esse pensamento livre de qualquer imposição e que seja livre para assim fazer.

Autor: Thiago Carvalho
Veja mais:
http://sociedaderacionalista.org/

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