Por Shirley Galdino
No último domingo, Guilherme, 24, ateu, sentiu-se mal e foi levado ao hospital com uma parada cardio-respiratória. Guilherme tem um tipo raro de leucemia e por ter sido vítima de tentativa de aborto, também nasceu com um afundamento da caixa torácica e como conseqüência, uma grave doença cardíaca. Ao chegar no hospital, Guilherme foi imediatamente encaminhado à UTI, onde recebeu os primeiros socorros e permaneceu por três dias. Ao receber alta da Unidade de Terapia Intensiva, Guilherme foi transferido para um apartamento privado e passou a ser cuidado por uma enfermeira evangélica que, ao observar um vídeo que Guilherme assistia, se irritou, dizendo que “(…) em nome de Deus, ela não iria permitir culto satânico no local de trabalho dela.”
Se DEUS não ama você... Então por que eu deveria? Sem Deus, eu não tenho nenhuma razão para agir moralmente.
Então, abriu a bandeja do aparelho, tirou o DVD e o quebrou, substituindo por outro com um culto do Pastor Silas Malafaia, dizendo que “(…) iria tirar o diabo dele”. O detalhe é que Guilherme passara por infarto, estava praticamente sem forças para andar e falar. Tentou gritar, mas devido a debilitação do organismo, não conseguia se fazer ouvir. Entretanto, foram os gritos da enfermeira que chamaram a atenção de médicos e funcionários do hospital. Segundo depoimento dos mesmos, era “um tipo de exorcismo” dentro do quarto. A enfermeira trancou a porta, arrancou os aparelhos que ajudavam na respiração de Guilherme e, brutalmente, segurava sua cabeça apontando para a televisão. A tortura só acabou quando os funcionários conseguiram arrombar a porta com um extintor de incêndio, entretanto, Guilherme já tinha desmaiado. A polícia foi chamada e a enfermeira evangélica foi levada à primeira DP de Itapetininga, onde ainda está detida por tentativa de homicídio, tortura, crime de ódio, entre outras qualificações criminais.
Todavia, com o caso de Guilherme, uma outra questão foi levantada a partir dos depoimentos de funcionários do hospital. Algumas enfermeiras informaram que tinham percebido que pacientes estavam reclamando do tratamento oferecido pela mesma enfermeira que atacara Guilherme. A maioria era de católicos ou de pessoas que afirmavam não seguir nenhuma religião. “É apenas no turno dela que acontece esse tipo de coisa. É só dar uma olhada nos óbitos nos turnos dela.” No entanto, casos como esses ainda estão sendo investigados.
“A sensação é de estupro. Estou muito assustado ainda. Medo de sair na rua, medo de contato com pessoas ao meu lado.”
São casos de intolerância como este, que nos fazem perceber a necessidade urgente de um Estado VERDADEIRAMENTE Laico. As pessoas não entendem o significado de laicismo e acham que Estado Laico é um Estado Ateu. O laicismo considera a existência da ética e da moral e se preocupa com a dignidade humana, independente de dogmas ou doutrinas. Além do mais, essa falta de conhecimento, até mesmo, do próprio ateísmo, faz com que ateus sejam sinônimos de demônios. Ateísmo é visto como “quebrar a regra”, então ateus podem matar, roubar, fazer todo tipo de mal, porque não têm a quem temerem. Ora, ateus apenas não acreditam em divindade alguma e isso não está automaticamente conectado aos conceitos de moral e ética.
“ Na cabeça dela, ela é uma amazona de deus. Na mente doentia dela, ela está fazendo o que Deus pede, é a vontade de Deus. Na mente dessas pessoas, vale tudo para agradar a Deus, mas se você não agrada ele te pune, então antes a pessoa do que você.” (Guilherme K.)
Este é apenas um breve comentário sobre o ocorrido, porque, como vocês perceberam, só este caso do Guilherme já nos rende um leque de assuntos polêmicos a serem discutidos: Aborto, Laicismo, Secularismo, etc. Então, prefiro deixar essas discussões para um próximo post, que seja mais específico. Quero apenas deixar uma citação (a qual não me recordo o autor) que resume muito bem todos esses temas abordados quando remetidos à religião:
“Moralidade é fazer o que é certo independentemente do que é dito. Religião é fazer o que é dito, independentemente do que é certo.”
Guilherme Kempoviki
Atualizações sobre o caso (18/11/11)
Estamos aguardando o desenrolar da história junto ao Guilherme, que é conhecido da comunidade ateísta na internet, em busca de um Boletim de Ocorrência e outras evidências.
Um caso desses, apesar de ser extremo, é possível. Sabemos que tal fenômeno ocorre até mesmo em países mais desenvolvidos em liberdades civis, como quando a Sociedade Americana do Câncer recusou (implicitamente) meio milhão de dólares de ateus e humanistas para evitar associação com ateus.
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