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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

FILME: HABEMUS PAPAM (2011) – NANNI MORETTI



Não sou entendido na sétima arte, mas sei que existem filmes bons e filmes ruins, filmes apenas para vender e filmes artísticos. Quando falo artístico, falo de filmes com intuito de promover a arte, com reflexão, beleza e algo mais; durante esta maratona atrás de filmes com algo mais, caí nesta trama realmente inusitada. Todos sabemos o que acontece após a morte do Papa, os cardeais/candidatos se reúnem e votam no sucessor, depois de escolhido, aquela fumacinha sai da “chaminé” e o mundo todo fica de olho no novo líder religioso, que ouso dizer, carrega uma responsabilidade ainda maior que ser o Presidente dos Estados Unidos, sim, o Papa.

O filme traz como personagem principal o cardial Melville, que acaba sendo eleito para carregar tal fardo, então todos se dirigem à sacada, para apresentá-lo ao mundo e serem contemplados por um discurso divinamente inspirado… É neste momento que o novo Papa, antes mesmo de chegar à visão do público, espera em uma cadeira e grita: “Eu não posso!”. Felizmente apenas os cardeais escutam tal lamúria e o novo Papa tem um ataque de pânico sem precedentes… E o público espera… Espera…

O que fazer nesta situação? Não há regras para serem seguidas, isso nunca aconteceu com nenhum outro candidato a Papa, o mundo todo espera em stand by pelo pronunciamento do novo líder. Este é o enredo, um homem comum, com seus medos, incertezas e fraquezas que definitivamente não aceita a responsabilidade de guiar todo mundo.

Confesso que cheguei à este filme por um anúncio que prometia ser um filme ateísta. Definitivamente vemos muito do ateísmo dentro da obra, mas nem de longe podemos classificar tal obra como uma obra ateísta, é uma obra humanista acima de tudo, tem o homem como estudo, independente de suas crenças ou descrenças.

Paralelamente, para tratar do novo Papa, que certamente precisa ser tratado urgentemente para fazer seu discurso, é contratado pelo vaticano, um psicanalista para ajeitar rapidamente a cabeça do santo homem. Nanni Moretti, diretor do filme, que ganhou a Palma de Ouro por “O quarto filho” em 2001 e causou alvoroço quando interpretou um jovem padre em “A missa acabou” de 1985, é quem interpreta o tal psicanalista; detalhe, este psicanalista, após entrar no vaticano, só pode sair depois que o Papa fizer seu discurso, afinal, não podem deixar a informação de quem é o novo líder religioso vazar, e acaba tendo que conviver com dezenas de cardiais, dormir, conversar, almoçar, e para quebrar o tédio, jogar um carteado e preparar alguma gincana para entreter a todos… Embora interprete um psicanalista cético e ateu, está a trabalho, e como o único livro que deixam ele usar é a bíblia, realmente tira água de pedra para fazer seu serviço.

Independente de haver um ateu dentro do vaticano, tentando resolver um problema gigantesco e precisando levar o novo líder religioso ao mundo, quem brilha realmente é Melville, o Papa em crise, interpretado por Michel Piccoli, já ganhador do prêmio de melhor ator em Cannes por “Salto nel Vuoto”, ele tem a capacidade de nos emociona apenas com um olhar.

O filme não se trata de religião, nem é uma afronta à mesma, como poderiam esperar do diretor Moretti, mas humaniza tais profissionais e dá a eles uma leveza e mostra ao público o quão pesado podem ser este oficio. Imagine lidar com os sonhos e esperanças da humanidade, é isso que o Papa faz, ele consola, serve de guia e é um homem, alguém que tem um passado e seus dramas particulares. Para o início do filme foram permitidas cenas do enterro do João Paulo II. Confesso que foi um filme que me surpreendeu, obviamente é uma comédia dramática, levando o ceticismo e humanismo para dentro dos portões do Vaticano. Muitos homens entram em crise e procuram por ajudas “divinas”, mas o que acontece quando um “santo homem” entra em crise? Pois é… Aí, se Deus não ajuda, só resta o bom senso do ceticismo e psicanálise.

Por: Fabrício Alves.
Veja mais em: http://sociedaderacionalista.org

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